segunda-feira, 4 de outubro de 2010

sensações

Sensações, tentações a perder de vista.
Sensações, tentáculos irresitíveis.
Aprender com a vida.

Um mosquito poliniza a flor do cacau,
que te dá o chocolate.
O morcego poliniza à noite e te dá
a proeza da vida vegetal.

Sensações, tentações a perder de vista.
Sensações, tentáculos irresitíveis.
Aprender com a vida.

A flor aberta exala sexo e com ela
a moça enfeita o cabelo.
O beija flor namora voando parado enquanto nós
paralizamos durante o clímax carnal.

Sensações, tentações a perder d vista.
Sensações, tentáculos irresitíveis.
Aprender com a vida.


Lunar(letra) e Beto Federal(música)

O dia da criança

Era uma vez um cara que não queria deixar de ser criança. Já aos 34 anos, trabalhava duro, se sentia tão cansado que não sabia direito de sua vida, nem mesmo que nunca quis crescer. Tinha mãe e pai saudáveis, tinha uma avó forte e muito viva, irmãos dos quais se orgulhava, tinha carro e casa, mas parecia que algo ainda estava faltando. Como um sentimento de estar esquecendo alguma coisa. Uma espécie de inquietação. Um vazio remoto que sismava em aparecer de vez em quando.
Foi num dia de sol, no meio de uma festa que ocorria durante a tarde, que recebeu um telefonema de seu irmão do meio, com a voz afoita, dizendo-lhe uma coisa improvável: Estava no jornal, na folha do estado, uma reportagem que se tratava do melhor amigo da infância dele, que sumira já havia 25 anos.
Na hora o cara ficou surpreso, um pouco incrédulo, pois poderia tratar- se de outra pessoa. Ao comprar a edição do periódico, confirmou. Não só o amigo havia reaparecido, mas aquele guri, que ele próprio foi um dia, reviveu instantaneamente. Um pequeno homenzinho que inventa os jeitos mais criativos pra construir as coisas que não tinha. Carros de lata, reboques de caixa de goiabada, pernas de gigante, asas delta de isopor, cidades de sucata, capas de toalha de banho para sobrevoar o pátio. A tampa de margarina no aro da bicicleta a transformava numa moto. O polo norte era dentro do freezer da geladeira. Cães viravam leões e cavalos, balões viravam bombas destruidoras de inimigos. Canos eram lunetas, e térmicas velhas eram tubos de oxigênio para os mergulhos impossíveis do 007. Tem muito mais. Ossos de galinha são esqueletos de piratas, as cocotas são seus papagaios no ombro. Os arcos e flechas de butiazeiro eram armas de verdade. Zarabatanas de caneta, carrinhos de lomba são baratas de corrida. Máscaras do Homem Aranha de rede de bergamota , as do Batman eram de raio x recortado. Nossos brinquedos eram legais, mas inventá-los era melhor ainda.
Foi então que esse homem viu, que escrevendo esse texto, não recordava de alguns desses brinquedos da infância, viu então que estava inventando, que estava brincando novamente aos escrever, coisa que já havia esquecido.
O ato de brincar é pura e simplesmente um exercício. Uma necessidade de aprendizado. Um simulador das experiências, assim como os sonhos. Ser criança é um exercício diário, que poderia ser normal ao adulto, não fosse a gente achar que já sabe tudo depois que cresce. Perdemos a vontade de criar quando esquecemos que estamos crescendo todos os dias da nossa vida.

Feliz dia das crianças a todas as pessoas que não perdem a vontade de crescer nunca.
Valeu por ter aparecido de novo, meu grande amigo.
Neste dia da criança brinque um pouco.



Lunar