sábado, 31 de julho de 2010

Vanguardero sul real

Meti o pé na porta me tornando imprevisível,
era ela a Vanguarda, esperando irresistível.
Pernas lindas, pés no salto e uma boca exuberante,
infinitos universos se fundindo num instante.
Inacreditáveis formas de beleza, inusitada dimensão.
Novidades turbinadas de idéias e paixão.
Malucas trovas impensadas, instrumentos novos de som.
Véio e moço aliados nessa nova conjunção.
A função tão caricata quanto à cópia, ampliação.
Um mundo náutico de viagens relampiantes, o sarau da invenção.
Não há fórmulas concretas só firulas e fusão.
O descompasso da invenção que se desata, confiante confusão.
Quem é bom, já na paisagem, se destaca; tudo é observação.
Sejamos a Vanguarda então.
Para mim aparentada, para ti aparição.
Para a mente estupefata, puramente inspiração.
A experimentação que se abstrai na forma exata.
Criatura e criação.


LUNAR

Pantera

Eu só a via quando havia raios em meio àquela tormenta.
Os clarões mostravam-na completa.
Uma Pantera Negra na escuridão Nefasta.
A boca carnuda e exata e os olhos parados em mim.
E sumia e voltava em meio aos flashs naquela escura mata.
E eu ali: cego e claro, cego e claro. E claro, totalmente cego.
Em prata, somente a silhueta sinuosa daquela fera gata.
Só se ouvia chuva e trovão e as patas dessa felina preta, que mansa se aproximava quieta.
E eu ali, cego e cru.
Com o perfume daquela mulata tão perto agora, que me decapta.
E então, na carne do meu pescoço nu
a língua dela vai se passando aflita.
E um arrepio inevitável me salta pela espinha intacta.
Os meus olhos se fecham cercados por uma sombra vasta.
Me clareia um corisco.
Um disco iluminado voando numa transa hasta.

Lunar

Poema exposto

Não penses tu que um dia saberás dos meus segredos.
Meus desenhos abstratos são pedras mudas.
Meu semblante é incógnito, não muda nunca para não despertar nem a mínima dúvida.
Os discos que ando ouvindo são tempestades cerebrais de autores divagantes.
Mas meus secretos pensamentos estão lá.
discretos.
descrentes.
Atônitos perante à tua distância intercontinentina de poucas quadras e alguns degraus.
Nem sob tortura imensa, nem mesmo no intenso calor do amor.
Nem que tu dissesses por favor, eu te diria tudo isso.
Nem que lesses o meu poema exposto.
Nem assim.

LUNAR

Uruguay

Levo o meu violão na mente,
e me bandeio para o lado de lá,
neste continente.
Neste tempo impaciente e tão distante,
eu me reconheço em tanta gente,
neste instante.
Levo o meu mundo sob meu chapéu, imortal.
E as ideias eu transformo em poemas castelhanos.
Trago poesias em meu violão,
e um sorriso vivo no semblante.
Sigo na pampa adiante e através,
tal como fez aquele tal poeta errante.
Navego livre pelo meu quintal.
e assim te comprimento hermanamente.

i suerte siempre y que no le piquem los mosquitos !
¡ y te cuida hombre aranha !


¡ Lunar !

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Nosso teorema

Já é a segunda quinta que não nos vemos
e não esqueci nem a sexta parte do nosso teorema.
Tua geometria me pulsa a cada fração de tempo,
tangendo meus instintos levemente.
Nossa equação é complicada e demorada,
mas se não tem resposta, porque teria sido postulada?
O tempo expõe os ossos dos problemas mais difíceis
e já me vem o fio certo deste novelo.
Desta novela de corpos e espaços vazios.
Elétron e próton é o que somos,
E a matéria vira energia.
E o mundo gira,
mas nada é em vão.

Lunar

A primeira estrela

antes do animal.
antes do vegetal.
havia uma estrela.
antes do marginal.
antes do policial.
havia uma estrela.
antes do sonhador.
antes do inventor.
havia uma estrela
antes do clérico.
antes do inquisitor.
havia uma estrela.
antes do músculo.
antes do cérebro.
havia uma estrela.
antes do bêbado.
antes do lúcido.
havia uma estrela.
antes de lúcifer.
antes de do mal chegar.
havia uma estrela.
antes do mar se abrir.
antes de cristo.
havia uma estrela.
antes do gato astuto.
antes do susto do rato.
antes da primeira estrela se acender.
mesmo antes de alguém vê-la.
eu já a via em meu poema.

lunar

A PEDRA LUNAR

Foi por aí que eu me vi, nas ruas de Bagé, eu quase cresci.
Pedra da lua eu não vi, um presente do general, eu quase esqueci.
Auxiliadora aprendi, uma vela na janela, amigos eu tive.
São Sebastião me falou das estátuas do cemitério, dos tigres do forte.
Vi os meus sonhos voarem nas pandorgas do meu avô.
Eu vi crescer por aqui a nova colônia alemã, vi negros e árabes.
Bárbaros santos eu vi, no batalha bailavam sempre. Eu não pude ir.
Fui nas carreiras do prado, nos balaços da catedral, na casa do Príncipe.
Foi lá No 15, ou na 7, ou no passo do 11, ou no 93.
Que eu vi brotar as raízes dos índios abagualados.
A conquistadora.
A pedra da lua.
Pode-se tirar um guri de Bagé, mas nunca se pode tirar Bagé de dentro dele.

Lunar

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Andarilho Supertremp

Venho de outro século pra tomar um mate verde.
Para te ensinar e aprender contigo.
O que realmente vale a pena é o poder de fazer amigos.
Um vampiro puro, páreo duro, dono de um império antigo.
Um disco velho que diz coisas do futuro.
Eu já sei de tudo e não carrego mais o medo.
O presente acontecendo é um presente bem melhor que tudo.
Quero estar na terceira idade no primeiro mundo.
Um farrapo em pé e ereto, velho andarilho.
Tendo um filho índio indo em busca do própio rumo.
O poder da teia natureza.
Veia das ideias geniais.
Viva os novos velhos eco ideais.
Luzemberger, luz sem sombra e muito mais.
Campos férteis, feromônios e bons astrais.

Lunar

Mulher Brasil

Exótica
Erótica
Sensual
Ninfa ninfomaníaca
Uma máquina sexual
Tem cheiro de fruta
Tempero sex apeal
Tem olhos de neon
Mulher Brasil
Toda lapidada
Toda depilada
Brazilian girl
Uma jóia cara
Pura Marinara
Mora no Rio
Dá para o plebeu que nunca viu
Mostra na Playboy um corpo farto um cérebro vazio.
Curte o baile funk sem nexo, sem calcinha.
Sai no carnaval com tapa sexo.
É rainha.

O perdão dos Beatles

O Papa perdoou os Beatles,
mas eles não estão nem aí.
Se o Google sabe de tudo,
penguntem-no o que está por vir.

Lenom e Harrison estavam no inferno.
Será que passaram pro céu?
Ou será que o Papa não manda nada?
Assim como você e eu.

Admirável novo mundo de novo,
visto do computador.

Perguntem ao Google:
Os Beatles serão beatificados
ou o Papa será beatleficado?

Lunar

Amor sincero

Não me venhas falar de amor
depois que eu fui abandonado na lua.
Não me temas,
não tenhas medo de minha casca dura.
Não estou contigo porque és simplesmente linda,
ou muito menos, pura.
Ser sozinho seria demais pra mim,
Teria tortura.
Cedo ou tarde eu me apaixonaria.
Quando eu conhecesse a tua bruxaria,
a tua loucura.
Só não me finjo de cawboy,
de galã do hollywood.
Tenho os meus pés no chão,
uso o meu chapéu na chuva.
Mas te digo com certeza.
Eu fui Peter Pan enquanto pude.
Meu sincero amor é teu,
mas meu resto ainda é rude.

Lunar

A crônica tônica

Meu celular estragou há alguns meses. Fui à agência de minha operadora, onde fui atendido por uma atenciosa e muito bem produzida moça. Parecia aquelas de bolo vivo, sabe? Pois é. Escolhi um aparelho incrível! Tinha tudo! Passava café, esticava arame e até benzia. Pena é que eu nunca sei mexer nos meus celulares. Na hora a guria me explicou:
-Com as vantagens que o senhor já adquiriu utilizando nossos serviços, este aparelho fica tri barato. Só cinco vezes de bzzz, e chegou perto e soprou em meu ouvido.
-Tá muito bom mesmo! Respondi:
- Vou levar de fato! Pensei ainda, aproveito e mudo meu plano a fim de economizar. Pedi à ela que diminuísse o limite de minutos de minha conta. Foi então que ela olhou no sistema, com muito rímel e lápis e base; e com aquela voz macia, disse:
- mas o senhor sempre ultrapassa o seu limite de minutos do mês, senhor. Respondi imediatamente:
-O Senhor está no céu.
-Pois bem, tenho que ligar menos então;
-Tens telefone? Ela riu, fez uma carinha de "Ah se eu não tivesse trabalhando..." . E tá. Fui embora felizdavida com meu celularzinho novo e minha nova amizade. Óbvio, depois de assinar mil contratos.
Só aí foi que algo intrigou-me. Era muita maquiagem. Parecia a Amy Wynehouse, só que lúcida. Então, chegando em casa, revisei minha conta e, pasmem senhores. Fui ludibriado como um marreca. Eu usava menos minutos que o concedido por meu plano. Havia recém assinado o tal de plano de fidelidade e, pra rescindir o contrato, só pagando multa ou esperando um ano. Um aninho só, de trezentos e sessenta e cinco dias. Já pensou! Que cadeado.
É, amigo! Não caia nessa roubada de plano de fidelidade. A mulher é a loba do homem. Olho "vivo". Não deixe qualquer "oi" te seduzir , e "claro", saiba de tudo tim tim por tim “tim”

Leonardo Bulcão

Quem faz o som?


Olha se não me engano
o velho Hermeto mostrou.
O som sai da tua cabeça.
E não do violão que calou.
Não é da cabaça que sai o som.
Não, não é do pistom.
Também não é do berimbau.
Não é do oboé.
Não é do cajón.
Nem é do cavaco, nem da batera, nem da cuica.
É de dentro da cuca que sai o som.
Não é do piano ou da tuba, não é da muringa ou do bandoneon.
Não é da caxeta que sai o som.
É da tua caxola, da tua ideia, da tua cultura é que vem o bom.
Também não é do zabumba nem do triângulo.
Nem do pandeiro que faz frisson.
Nem é da rabeca, nem é da palheta do saxofon.
Não é do baixo, não é do alto.
Não é do acordeon.
É a tua viajem, é o teu improviso que conta os tons.
O teu pensamento é que faz o som.
E não adianta, não tem solução.
Não é o instrumento.
É o teu movimento no exato momento que faz o som.
É a tua paixão.



Lunar

POA, na boa.

Há pouco tempo que ando nas ruas de POA, e pá.
Vi um homem invisível deitado em meio a trapos numa esquina.
Ele mal respirava.
Não sei se vivo, não sei se morro.
Ninguém o via, mas ele realmente estava lá.
POA, na boa: Teus grafites falam de amor.
Mas os teus riscos são absurdos.
Os teus ricos não me soam bem.
Os teus únicos gritos são buzinadas para surdos em meio ao tráfego de droga.
Teu remédio faliu.
Teu remendo caiu.
Teu mendigo sumiu.
Bem na tua frente.
E eu?
Roubei um beijo e parti.

Lunar

Samba pra não chorar

Quando não se esquece um grande amor, Amor.
E as horas parecem não passar.
Um coração puro, para em apuros,
e faz um samba pra não chorar.
Quando não se esquece um grande amor, Amor.
E as horas parecem não passar.
Um coração duro para inseguro.
E faz um samba pra não chorar.

Pede pra que seja só de passagem.
Uma miragem que quer esquecer.
E bebe pra esquecer o desejo.
E faz um harpejo que é pra não morrer.

Pede pra seja só recaída.
Pra que siga a vida sem ilusão.
E bebe pra encontrar a saída.
E paira em pura inspiração.
E paira em pura inspiração.

Lunar

Politicamente poeta

Alerto que, pelo caminho, pode haver pequenos erros,
grandes negócios e meias verdades.
Meias furadas.
Frases de efeito, muros elétricos e rock&roll.
Ciclones extra tropicais,
Zepelins e viagens inesperadamente ácidas.
Sonhos bons.
Festivais malhados.
Beijos molhados e garotas afins.
Poluições globais e badernas.
Esquerdas centralizadas e direitas tortas.
Politicagens patéticas, filhas das púticas e palavrões.
Pataquadas.
Paradigmas.
Teoremas mirabolantes bolados por um bem bolado acaso.
Calculadoras atômicas.
Relógios de sol.
Perfumes.
Feromônios.
Ratoeiras.
Uma Super Nova, uma super-moça.
Sexo quântico, física tântrica e vice-versa.
E versa-vice.
E etc...
E tal.
Sementes piratas,
Parques do Mickey, Mac Donald’s e outras assombrações.
Aposto que pelo caminho pode haver rítmos e contrações involuntárias aceleradas.
Carnavais.
Insites sobre o futuro.
Amores de camelô.
Deja vus.
Máquinas de debulhar milho automáticas.
Gols, pênaltis perdidos e cinema de final feliz.
Alerto que nada disso deverá te abalar realmente, mas se isso acontecer:
Sorria, você estará sendo filmado.
Sendo assim, politicamente poeta, o que te afeta não é o político.
O que te afeta não é o poeta.
O que te afeta é o teu afeto.

lunar

A noiva do navio


Altair, no iní­cio, não era triste.
Já faz tempo apaixonou-se pelo sorriso da mais linda donzela.
Arrumou coragem na timidez,
perfumou-se, ensaiou um verso e partiu ansioso ao
encontro da amada.

"Te pesso assim inocente,
um beijo de amor só pra mim.
Ou então, sendo mais indecente,
te amaria por toda uma noite,
mesmo uma noite sem fim."

Por milhas e milhas ele navegou seguindo a esteira alucinante daquela cabeleira.
Mal sabia ele que era em vão.
A moça, indiferente, não o via.
A mágoa logo tocaria o coração de nosso poeta errante.
Primeiro o isolamento.
Depois o silêncio dos eremitas.
O sal, o tempo, o vento e a mágoa.
Água salgada no metal.
A ferrugem que corrói a alma de quem se entrega à dor.
Ruindo aos poucos.
Até o fim.

Lunar

A mais rara

É claro, meu caro, que ela é a mais rara.
Licor de flor.
Flor de furta cor.
Corpo fonte de calor.
Já sei de cor a sua história.
Eu vi de cara o seu valor.
Fina flor.
Rima rica, fino traço.
Fruta nova.
E claro que não me engana o faro.
Ela tem um cheiro que me tara.
Ela tem um jeito que me para.
É claro, meu caro, que ela é a minha cara.

Lunar

Ano novo

Mais um fim de ano.
Mais um fim do mundo.
Mais uma vez refaço os planos.
Mais uma vez eu juro que mudo.
É assim que eu me reforço.
E nunca me desfaço todo.
Do passado, guardo sempre algum pedaço,
mas passo a limpo quase tudo.
Bem vindo, ano novo!
Me pegou desprevenido.
Tenhos sonhos e não posso contar muito contigo.
Mas é com garra que eu sigo.
é assim que tenho vivido.
Podes até ser ruim com conosco,
mas os teus manos mais velhos,
que pensavam nos ver foscos,
nos tornaram destemidos.


Lunar

O Riso do Caracol


Eis que um belo dia me sorriu um caracol.
Disse que pra mim sorria porque o dia era de sol.
Disse que não corria, mas que curte o carnaval.
Que gostou da minha guia de São Jorge a tiracol.
Logo após ele se ia, e eu saía do normal.
Com saudade do sorriso tão feliz tão natural.
E fiquei aqui sozinho passa lua e passa sol.
Lá vai ele, assim passeando, no seu passo habitual.
Não pode ser mais bonito o riso do caracol.


Lunar

Alto retrato

Olhos de anjo e cabelos de cachoeira.
A cara limpa e a risada deslavada.
Era assim que eu era.
Deflorador de donzelas espaciais.
Explorador de templos.
Conhecedor de grutas.
Caminhador de estradas vicinais.
Eu era de outra era.
Um cara de outra terra,um cara com outra cor.
Ansioso poeta.
Desastrado astrônomo profeta.
Lunático pintor.
Nascido sob a regência de gêmeos,
chicobuarqueano puxado pra Bob Dylan.
E só eu era igual a mim.
Vivi nos tempos da fera, fui forjado nos brilhos da glória.
E se não me falha a memória, eu vim mesmo foi lá de fora.
De fora da grande esfera.
Mas um dia o tempo impermanente,
assim como num repente,
fizera meu rumo variar.
E eu tive que ser tudo novamente,
pois era só na minha pele que eu queria morar.

Lunar.

Sinestesia

Papel de papel avesso.
Eu nunca me esqueço
dos nossos lençóis.
Eu penso no teu endereço.
Teu lenço de seda.
Teus seios de seda sedam o meu pensar.
Deus quis o nosso silêncio,
mas o fogo inquieta
e desperta o poeta,
que finge não te gostar.
Te ama infinito solito
o amor mais bonito,
que pode passar.
Que rima com cheiro verde
e acaba com Lunar.

Lunar.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

O beijo; por Lunar

Existe o último e o primeiro.
Tem o beijo de namorado.
Existe o bem demorado
e tem o selinho ligeiro.
Tem o beijo atrás da igreja.
Tem o beijo no altar.
Existe o beijar por beijar. (ficar)
e o beijo de causar inveja.
O beijo singelo no coreto.
O beijo de desentupir pia.
O beijo por telefonia.
O beijo intenso do arreto.
O beijo da mulher aranha.
O beijo todo molhado.
O beijo da freira é pecado.
O melhor beijo é o de prima em cozinha.
Beijo da mãe e do filho.
Beijo do pai, beijo do vô, beijo da vó.
Beijo de borboleta, de coruja e de Esquimó;
De batom, de glóss e de brilho.
Beijo de coração.
Beijo da boca pra fora.
Beijo de quem tá chegando.
Beijo de quem vai embora.
Beijo de mocinho nela.
O beijo dela no bandido.
Há o beijo de novela
e há o beijo escondido.
Existe o beijo lacaio.
Existe o beijo de Judas.
Existe o beijo em que traio.
Existe o beijo em que ajudas.
Existe o chupão no portão.
Existe os três pra casar.
O beijo de língua em vão,
e a míngua de quem quer beijar.
Beijo na testa de boa noite.
Beijo roubado na quermesse.
Beijo que nunca se esquece.
Beijo na festa em boite.
Beijo na trave, beijoca e bejunda.
Beijo na rave na sexta feira.
Beijo na boca, na feira, segunda.
Enfim, o beijo é tão bom; mas com amor é ainda melhor.
O beijo é pedir uma benção e saber que não se está só.


LUNAR

Licença poética

Peço licença poética pra falar de coisas simples.
Peço licença pra métrica pra assassinar a gramática.
Pra não rimar, se for pra errar, mas se for pra ser feliz.
Peço de pronto à prática e caótica matemática.
Peço desculpas pra estética,
mas pra toda a problemática existe uma solucionática invenção.
Nem cataclísmica nem bombástica,
Nem lógica nem mágica.
Nem a suástica nem a budística
nem a pernóstica belatriz
vão impedir aquela máxima:
O importante é ser feliz.


LUNAR

Divino dom

Destraído dono do destino.
Domador dos dias.
Deus deveras destemido.
Detentor de dogmas.
Dominante déspota d'outra distante dinastia.
Derrepente, dissabor.
Desamor.
Despedida dolorosa.
Donzela divergiu do Dragão.
Divina Diva decidiu dividi-los.
Daquele dia deu-se desilusão.
Dali, desolado, dirigiu down.
Desd'então derramou dor.
Detonou dinamite.
Diamante duro delapidou.
Desesperado, degringolou.
Doou digno dote d'ouro.
Devolveram-lhe.
Desfecho desferiu dardos dormíferos direto dentro d'alma dele.
Descrente, deprimido, dormiu.
Desmaiou.
Dormiu demais.
Detalhe: Deitado?
D'aonde; deambulava dormente.
Derradeiro duende.
Desenganaram-lhe.
Deram-lhe dois dias.
Depois de descomunal demora, desencantou.
Determinou-se.
Dignificou-se.
Descobriu darma.
D'alma d'alva despertou.
Denominou-se Delfim Delmar.
Diluiu-se d'água.
Derramou dom.
Do desenrolar da Dama, demonstraram dúvida?
Descubram: Dizem, deleita-se dele.
Devolveram-se.
Delicada delícia.
Dois deuses dissolvendo-se docemente.
Dadivosamente.


Delfim Delmar Lunar.

Natureza primordial

Vidas vindas de outras vidas.
A natureza primordial se revela em cada detalhe da paisagem.
Vistas vistas de outras vidas.
A essência natural de cada um é a mesma.
A mesma das cachoeiras que escondem arco íris em dias sem sol.
A mesma do vento marinho que sopra teu cabelo e te arrepia.
A mesma da areia cintilante da praia do cassino.
A mesma que acelera teu coração ao perceberes a proximidade de um beijo.
A mesma que te seca a boca.
A mesma que te cega, e te extasia.
A energia que te encontra nos perfumes e sabores finos das flores e frutas.
No som das bandas, no chão de Lavras.
Nos eclipses, nos cometas, nas constelações.
Ter a certeza de continuar infinitamente imerso na continuidade da existência.
Desde os tempos sem início até os tempos sem fim.


Lunar